No início de 2007 conseguimos permissão para fazer um trabalho de recuperação em um terreno inutilizado no bairro do Portão, em Curitiba. Passamos quase um mês tirando entulho e escavando o lixo que foi enterrado pelos antigos locatários, donos de uma loja de sapatos que achavam que enterrar entre as árvores frutíferas era o melhor a se fazer com os copinhos de plástico, latas de alumínio, grampeadores velhos, canetas e lixo de escritório em geral, sem falar de outras bizarrices que encontramos por lá, como seringas usadas e até uma caixa de som. Após muito esforço limpando a área, conseguimos começar a plantar.
A idéia era transformar aquele espaço em uma horta coletiva, onde todos os que participassem dividissem os frutos. Mas acabou sendo muito mais do que isso. Durante alguns meses o terreno se transformou em um laboratório onde aprendemos a plantar, fazer mudas, podas, estacas, lidar com os elementos como a água que as vezes vem em excesso e depois faz tanta falta, o sol, o vento, os pássaros, abelhas e, principalmente, as pessoas. De todas que passaram por lá e ajudaram tanto, como o Mago Jardineiro, o meu amigo Dino, que agora mora na Europa, minha família, amigos e amigos de amigos que ensinaram e aprenderam juntos.
Fazendo canal de infiltração para segurar a umidade no solo
Depois de algum tempo de trabalho, já começamos e colher os resultados, não somente todos os alfaces, rabanetes, goiabas, rúculas, ameixas, ervilhas, feijões e incontáveis outros alimentos que a terra nos deu, mas também a campanhia dos pássaros que voltaram a frequentar o lugar e chegavam a tomar banho quando a chuva formava um laguinho na sombra da goiabeira e o próprio espaço que nos acolhia, dando sombra nos dias quentes e silêncio em meio ao barulho da cidade.
No final do mês passado (novembro) o terreno voltou a ser alugado, e perdemos o acesso à horta. Foi triste ter que ir buscar as ferramentas, e mais triste de saber que toda a área vai ser concretada para se transformar em um estacionamento, mas esse não é o fim da horta comunitária, outras pessoas se juntaram a nós e não estamos mais tão preocupados em ter a autorização dos proprietários ou das autoridades para trazer a vida de volta aos espaços urbanos. E nós não estamos sós, muitas pessoas estão retomando o espaço, quebrando o concreto e dando espaço para a terra respirar.
Viva a Jardinagem Libertária!
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